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Durante a gravidez, é fundamental garantir o aporte necessário a nível nutricional, através de uma alimentação saudável (Procter SB & Campbell CG, 2014). No entanto, nesta fase da vida da mulher as necessidades encontram-se aumentadas.

O crescimento e desenvolvimento do feto e placenta, bem como a preparação das glândulas mamárias para o processo da lactação são modificações fisiológicas do organismo de uma grávida que carecem de um aporte suplementar de nutrientes (Escott-Stump S, Kathleen Mahan L, Krause, 2008). Desta forma, a suplementação adequada em vitaminas e minerais é recomendada, devendo ser prescrita pelo seu médico numa consulta de planeamento familiar, recebendo todo o esclarecimento e devido aconselhamento.

De acordo com a Direção Geral de Saúde (DGS), o ácido fólico e o ferro, são os nutrientes mais recomendados como suplementação na gravidez e, atualmente, também se recomenda o iodo, por estar comprovado que a dieta alimentar portuguesa carece igualmente deste nutriente. É importante adequar a sua utilização mediante as necessidades individuais de cada grávida, podendo ser necessário suplementar com outros nutrientes, caso se justifique. Para compreender a importância de receber suplementação nesta fase gestacional, exploramos os principais micronutrientes suplementados:  

ÁCIDO FÓLICO: (forma sintética da vitamina folato) também denominado por Vitamina B9, é uma vitamina hidrossolúvel exercendo funções importantes no processo de multiplicação celular, e, por isso, indispensável durante a gravidez. Interfere com o aumento dos glóbulos vermelhos, o alargamento do útero, o crescimento da placenta e do feto e com a formação de anticorpos. Atua também como coenzima no metabolismo de aminoácidos e síntese proteica, e também na síntese de purinas e pirimidinas.

É essencial para a formação do sistema nervoso do feto e desempenha um papel fundamental na redução do risco de desenvolvimento de malformações do tubo neural do bebé (OMS, 2013). Os defeitos do tubo neural são o conjunto mais comum de malformações congénitas, do Sistema Nervoso Central (SNC), no qual se inclui a espinha bífida e anencefalia (Fekete K, et al., 2012; Marangoni F, (2016).

Durante a gravidez, a recomendação baseia-se no aumento do consumo de frutos (laranja) e hortícolas ricos nesta vitamina (brócolos, couves de Bruxelas), bem como a utilização de cereais integrais (pão, massa e arroz integral) e leguminosas (lentilhas, ervilhas, feijão, grão-de-bico, favas).

De forma a garantir o cumprimento das recomendações nutricionais de 600 μg (microgramas) de ácido fólico diário, numa mulher grávida, recomenda-se que este seja suplementado. Esta suplementação deve ser iniciada três meses antes da conceção e manter-se durante os primeiros três meses de gravidez, sendo que as necessidades em lactantes, são menores (500 μg).

Fortes evidências concluem que esta suplementação reduz o risco de doenças do tubo neural, embora de um modo muito convincente e consensual. Contudo, a magnitude da redução do risco depende da probabilidade de desenvolver essas doenças e nem todos os casos podem ser prevenidos com o aumento do consumo de ácido fólico, por ser de causa multifatorial (Heseker H, 2011; Marangoni F, 2016).

FERRO: é considerado um nutriente essencial, sendo o principal constituinte da hemoglobina, mioglobina e de várias enzimas. Envolvido em diversos processos enzimáticos, como na formação da hemoglobina do sangue (produção dos glóbulos vermelhos), na respiração celular e no desenvolvimento nervoso fetal, para além de ser relevante no metabolismo energético do bebé, o ferro desempenha ainda um papel fundamental na transferência de oxigénio para os tecidos (Marangoni F, 2016; WHO, 2001).

No bebé, quando este nutriente se encontra em défice, pode dar origem a recém-nascidos de baixo peso, prematuridade e mortalidade perinatal, bem como perturbações na formação e organização neuronial (Allen LH, 2000; Marangoni F, 2016). Além disso, de acordo com alguns estudos recentes, a ingestão inadequada de ferro durante a gravidez está associada também ao aumento do risco cardiovascular para a prole na vida adulta (Alwan NA, et al.,2015).

Na mãe, a carência em ferro pode provocar anemia, uma condição muito comum em todo o mundo, afetando cerca de 38% das mulheres grávidas a nível mundial (Cetin I, Berti C, Mandò C, & Parisi F, 2011; Stevens G, et al., 2013; Bhutta ZA, et al., 2013).

As necessidades em ferro, durante a gravidez, aumentam progressivamente até ao terceiro mês, paralelamente ao acúmulo de tecidos fetais (OMS, 2013). A DGS recomenda a ingestão diária de 27 mg (miligramas) de ferro nesta fase da vida da mulher, em especial na segunda metade do período de gestação.

Paralelamente à toma de suplementos deste mineral, os quais devem ser tomados sempre de acordo com supervisão médica, também constituem boas fontes de ferro, alimentos de origem animal, tais como a carne e o peixe, ovos, leguminosas e hortícolas de folha verde escura, e ainda o pão integral, o feijão manteiga cozido, as ervilhas, o grão de soja cozido, algumas oleaginosas como nozes e amêndoa. Por outro lado, uma ingestão de ferro excessivamente alta pode expor as mulheres ao stress oxidativo, à peroxidação lipídica, ao metabolismo da glicose diminuído e à hipertensão gestacional, recomendando-se nestas situações, um acompanhamento periódico (Dias AC, et al., 2016).

Importante ainda realçar, que a absorção de ferro pode ser potenciada com um aumento do consumo de alimentos ricos em vitamina C (citrinos, kiwi, brócolos) (DGS, 2015; Marangoni F, 2016; WHO, 2001).

IODO: é um dos principais constituintes das hormonas tiroideias: a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3). Estas hormonas participam na gestão do crescimento, na formação dos ossos, no desenvolvimento cerebral e no metabolismo da glicose, proteínas, lipídios, cálcio e fósforo (Escott-Stump S, Kathleen Mahan L. Krause, 2008).

Durante a gravidez, as necessidades deste nutriente estão também ampliadas, de forma a perfazer as necessidades do feto, para compensar as perdas urinárias da mãe (nesta fase existe um aumento do volume diário de urina) que decorrem devido ao aumento da clearance renal do iodo, ocorrendo maiores perdas deste nutriente e principalmente, para prevenir o hipotiroidismo materno e fetal. Através da alimentação é possível obter a maioria do iodo que a grávida precisa para a produção das hormonas tiroideias, sendo a ingestão de peixes capturados no mar e não de aquacultura uma das principais fontes alimentares. Podem ser também consideradas, outras fontes como os crustáceos, moluscos, algas, leguminosas e hortícolas, a carne, o leite e seus derivados e o sal iodado (Marangoni F, 2016).

No entanto, a Orientação da Direção-Geral da Saúde publicada em 2013, com base nas diretivas internacionais da Organização Mundial da Saúde (OMS), salienta que mesmo praticando uma alimentação adequada e rica em produtos que sejam fornecedores de iodo, todas as mulheres no período da preconceção, durante toda a gravidez ou que estejam a amamentar exclusivamente (desde que não seja apresentada qualquer contraindicação clínica), devem ser suplementadas diariamente com iodo sob a forma de iodeto de potássio. Assim, é recomendada a toma de suplementação com 150/200 mg/dia de iodo, de forma a não comprometer o desenvolvimento cognitivo do bebé, uma vez que a dieta portuguesa é atualmente pobre em neste oligoelemento. Em caso de carência, representa a primeira causa de défice mental, em países desenvolvidos. Podendo aumentar o risco de defeitos congénitos, distúrbios neurológicos, aborto espontâneo e mortalidade perinatal (Zimmermann MB, 2012).

Em suma, praticando uma alimentação variada, completa e equilibrada, em conjunto com a toma da suplementação necessária e adequada à sua situação específica em cada fase da sua vida, antes e depois da gravidez, torna-se essencial para garantir o desenvolvimento saudável do feto, bem como a manutenção do estado de saúde da mãe (Milman N, Paszkowski T, Cetin I & Castelo-Branco C, 2016). Relembrando que a suplementação não deve ser tomada por iniciativa da mulher, procurando um médico que a auxilie neste processo tão importante.

Qualquer dúvida e informação sobre suplementação que necessite, temos a nossa Equipa de Nutrição ao seu dispor!

 

Flávia Neca

Nutricionista Estagiária

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Allen LH (2000). Anemia and iron deficiency: effects on pregnancy outcome. The American Journal of Clinical Nutrition, 71(5), 1280S–1284S. doi:10.1093/ajcn/71.5.1280s. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10799402.

Cetin I, Berti C, Mandò C, & Parisi F (2011). Placental Iron Transport and Maternal Absorption. Annals of Nutrition and Metabolism, 59(1), 55–58. doi:10.1159/000332133. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22123640.

Bhutta ZA, et al. (2013). Lancet Nutrition Interventions Review Group; Maternal and Child Nutrition Study Group. Evidence-based interventions for improvement of maternal and child nutrition: What can be done and at what cost? Lancet, 382, 452–477.

Stevens G, et al. (2013). Global, regional, and national trends in total and severe anaemia prevalence in children and pregnant and non-pregnant women. Lancet Glob. Health. 1, e16–e25. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-109X(13)70001-9/fulltext.

Fekete K, et al. (2012). Effect of folate intake on health outcomes in pregnancy: a systematic review and meta-analysis on birth weight, placental weight and length of gestation. Nutrition Journal, 11(1). doi:10.1186/1475-2891-11-75. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22992251.

Marangoni F (2016). Maternal Diet and Nutrient Requirements in Pregnancy and Breastfeeding. An Italian Consensus Document. Nutrients, 8(10), 629. doi:10.3390/nu8100629. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27754423.

Escott-Stump S, Kathleen Mahan L. Krause (2008). Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. Saunders Elsevier; 12ªedição.

WHO, Iron Deficiency Anaemia Assessment, Prevention, and Control A guide for programme managers, 2001.

Zimmermann MB (2012). The Effects of Iodine Deficiency in Pregnancy and Infancy. Paediatric and Perinatal Epidemiology, 26, 108–117. doi:10.1111/j.1365-3016.2012.01275.x. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1365-3016.2012.01275.x.

Procter SB & Campbell CG (2014). Position of the Academy of Nutrition and Dietetics: Nutrition and Lifestyle for a Healthy Pregnancy Outcome. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, 114(7), 1099–1103. doi: 10.1016/j.jand.2014.05.005. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24956993.

Milman N, Paszkowski T, Cetin I & Castelo-Branco C (2016). Supplementation during pregnancy: beliefs and science. Gynecological Endocrinology, 32(7), 509–516. doi:10.3109/09513590.2016.1149161. Disponível em:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26956254.

OMS. Diretriz: Suplementação diária de ferro e ácido fólico em gestantes. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2013.

Dias AC, et al. (2016). Suplementação com ferro na gravidez: haverá benefícios clínicos?. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, [S.l.], v. 32, n. 2, p. 158-160, março. ISSN: 2182-5181. doi: http://dx.doi.org/10.32385/rpmgf.v32i2.11742. Disponível em: http://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/11742.

Heseker H (2011). Folic Acid and Other Potential Measures in the Prevention of Neural Tube Defects. Annals of Nutrition and Metabolism, 59(1), 41–45. doi:10.1159/000332126. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22123637.

Alwan NA, et al. (2015). Maternal iron status in early pregnancy and birth outcomes: insights from the Baby’s Vascular health and Iron in Pregnancy study. British Journal of Nutrition, 113(12), 1985–1992. doi:10.1017/s0007114515001166. Disponível em:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25946517.

Direção Geral da Saúde (2015). Alimentação e Nutrição na Gravidez. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Lisboa. ISBN: 978-972-675-221-9. Disponível: http://www.alimentacaosaudavel.dgs.pt/activeapp/wp-content/files_mf/1444899925Alimentacaoenutricaonagravidez.pdf.