Por estes dias, um pai partilhava comigo as suas inquietações face ao seu filho mais velho: tinha também uma filha recém-nascida e sentia que o filho andava mais reservado, mais introvertido. O pai estava preocupado pois não estava a conseguir perceber de que forma o filho, de então 4 anos, estava a lidar com a chegada da mana…

Grande parte dos pais e mães partilham destes receios: existindo já um filho nas suas vidas, e com outro a caminho, como irão eles reagir?
Independentemente da idade da criança mais velha, um denominador comum é com certeza, o sentimento de ciúmes face aquele novo membro da família que vem alterar, inevitavelmente, muita da dinâmica familiar. “A atenção já não é toda para ele…”, pensam os pais.

Quando o bebé nasce, o seu irmão mais velho já cá está, fazendo, portanto, parte da sua vida logo desde o seu início. Porém, com o filho mais velho isso não aconteceu, o que implica, para o próprio, mudanças e adaptações psicológicas a esta nova realidade.

Mas de que forma podem os pais ajudar a minimizar as dúvidas e possíveis inseguranças do filho, com a chegada deste bebé que virá, inquestionavelmente, desafiar a paciência do mano mais velho?

Durante a gravidez:

– Procurem que ele participe na escolha do nome, por exemplo, que fale e acaricie a barriga;
– Deixem-no participar na escolha do enxoval do bebé, nomeadamente algumas roupas, chuchas, bonecos…
– No 3º trimestre de gestação, conversem com o vosso filho sobre a ida para a maternidade,
– Transmitam-lhe o quanto o amam, o quanto é especial e que será sempre o filho mais velho; que apesar da mãe ir dar mais atenção imediata ao bebé que aí vem, podem sempre ter os seus momentos a 2 quando o bebé estiver a dormir ou aos cuidados do pai…
– Digam-lhe que sortudos são, por poderem contar com a sua ajuda quando o bebé nascer, nas rotinas diárias da família…

Nesta fase, o pai tem também um papel importante a desempenhar, pois poderá representar para a criança um porto de abrigo nos próximos tempos, na medida em que a mãe estará mais absorvida pelo bebé. Por seu turno, ela continua a necessitar de muita atenção. Assim, o pai pode ir reforçando este vínculo através de diálogos com a criança, de atividades em conjunto, fortalecendo a triangulação e ajudando a criar na criança “espaço psicológico” para o bebé que aí vem.

Na maternidade:

– Ajudem o vosso filho a escolher uma prendinha para dar ao bebé no dia em que o for visitar. Em troca, ofereçam-lhe uma prendinha “trazida” pelo bebé especialmente para o seu mano.
– Deixem-no perceber que um bebé é um ser como ele, a interação possibilita o conhecimento e traz segurança. Recordo sempre o comentário de uma criança que ao conhecer o seu irmãozinho na maternidade exclamou: “- Mamã, o mano tem ossos!”.

Em casa:

– Procurem envolvê-lo nos cuidados diários do bebé, mas respeitem se ele nem sempre quiser participar;
– Quando as visitas chegarem para ver o bebé, podem sempre falar primeiro com o “mano crescido”,
– Tentem proporcionar alguns momentos a sós com a criança, recordem-lhe qual o seu papel na família e qual a sua importância. As crianças podem sabê-lo, mas precisam muito de o ouvir.

Como qualquer mudança, esta nova realidade familiar pode trazer algumas alterações de comportamento no vosso filho, dependendo da idade (falar à bebé, voltar a fazer xixi na roupa durante o dia ou noite, demonstrar estar mais pensativo ou mais agitado…). Sendo manifestações comportamentais possíveis, deverão ser temporárias. Conversem com ele sobre isso, mas não atribuam demasiada importância.

Na base de todo este processo, encontra-se a confiança que os pais conseguirão transmitir ao filho, envolvendo-o ativamente neste novo desafio.

E assim uma nova viagem se inicia para todos os elementos da família. Resta desfrutarem desta aventura, ao mesmo tempo que CRESCEM TODOS JUNTOS nesta nova dinâmica familiar.

Autor: Paula Ramalhete, Psicóloga

Disponível em: https://www.facebook.com/PsiPaulaRamalhete/posts/2075481149202640?__tn__=K-R