A entrada na creche é uma nova fase da vida da criança, que requer uma especial atenção.

Para os pais, trata-se de um período que pode afetar a dinâmica familiar, pois é natural que surjam emoções fortes e algumas dúvidas, como por exemplo, será que a criança se irá adaptar bem? Vai querer alimentar-se? As suas necessidades vão ser satisfeitas? Como iremos lidar com a separação?

A adaptação muitas vezes é difícil para a criança e para os pais, pois exige reorganizações e transformações, no que diz respeito ao ambiente, às novas rotinas, à alimentação, às pessoas desconhecidas, às separações diárias e à ausência dos pais (Davies & Brember, 1991). A forma como esta fase é experienciada pela família influencia e é influenciada pelas reações e comportamentos da criança (Rossetti-Ferreira, Amorim & Vitória, 1994).

Desde o nascimento os bebés são confrontados com inúmeras situações novas e stressantes que requerem ação e adaptação (Compas, 1987), necessitando de adquirir estratégias para lidar com o sofrimento e a angústia produzidos por estas situações (Carson & Skarpness, 1988; Compas, 1987; Karraker, Lake & Parry, 1994). Cada criança reage da sua forma a determinadas situações stressantes, no entanto, pais tranquilos conseguirão adotar estratégias para permitir enfrentar essas situações (Rapoport & Piccini, 2001).

A entrada para a creche pode ter um impacto positivo na vida da criança, verifica-se que o processo de comunicação é fundamental para a compreensão e assimilação do novo, tanto para a criança, como para os progenitores, (Martinez,1998:156), ou seja, este processo visa proporcionar o desenvolvimento das crianças em diferentes áreas, nomeadamente, autonomia, comunicação e linguagem.

 

Como facilitar uma boa adaptação?

Quando existe mudança nas nossas vidas, é necessário haver um período de adaptação para nos sentirmos totalmente confortáveis com a nova rotina, o mesmo se verifica com as crianças quando entram para a creche.

Um fator que influencia o período de adaptação na entrada para a creche é a forma como a família, principalmente a mãe, se sente e perceciona a entrada do(a) filho(a) na creche (Balaban, 1988b; RossettiFerreira & Amorim, 1996). Por vezes, é mais complicado para os pais separarem-se da criança do que para a criança adaptar-se ao novo ambiente (Brazelton, 1994). Os progenitores podem experienciar sentimentos ambivalentes (conscientes ou inconscientes) sobre deixar os seus filhos aos cuidados de pessoas desconhecidas (McMahon, 1994).

A rotina permite à criança um sentimento de maior segurança, antecipação e autonomia, desta forma, faltas frequentes ou alterações nos horários de entrada e saída dificultam a adaptação, que tende a se estender por mais tempo (Vitória & Rossetti-Ferreira, 1993).

A adaptação à creche é gradual, pois cada criança tem o seu ritmo e necessita do seu tempo para se adaptar, assim sendo, é importante não impor um período pré-determinado para este processo (Rapoport & Piccini, 2001).

 

 

Como organizar a despedida?

De acordo com Brazelton (2000), os medos fazem parte da infância, servindo como expressão da dependência da criança. Desta forma, é natural que surjam também neste período de entrada na creche. Muitas vezes os pais, com o objetivo de ajudar a acalmar os próprios filhos, cedem aos medos da criança, mimando-as, retirando algumas regras e limites: este comportamento por parte da família pode prejudicar a criança, uma vez que, esta deixa de sentir segurança por parte dos pais e os seus medos podem aumentar. O estabelecimento de regras e limites podem ajudar a resolver os medos, que não sendo agradáveis para a criança, deve ser ela própria a resolvê-los, sendo sempre essa tarefa facilitada com o apoio e a coerência dos pais.

Quando os pais se sentem calmos e confiantes e as despedidas são curtas tornam o processo menos doloroso.

 

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Ana Pinto

Psicóloga Clínica

Hipnoterapeuta Clínica

 

 

Referências

Balaban, N. (1988b). Separation: An oportunity for growth. ERIC Reports, (ED 297867). Washington;

Brazelton, T.Berry (2000). Dar atenção à criança para compreender os problemas normais de crescimento. Lisboa: Edições Terramar. (tradução do original em inglês publicado em 1984);

Brazelton, T. B. (1994). Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. (J. L.Camargo, Trad.) São Paulo: Martins Fontes.

Carson, D. K. & Skarpness, L. R. (1988). Contributors to childrens coping: A developmental overview. Wellness Perspectives, 2, 21-25;

Compas, B. (1987). Coping with stress during childhood and adolescence. Psychological Bulletin, 101, 393-403;

Davies, J. & Brember, I. (1991). The effects of gender and attendande period on children’s adjustment to nursery classes. British Educational Research Journal, 17, 73-82.

Martinez, Cláudia M. Simões. Da família a escola: ingresso de crianças de 1 a 3 anos  em  novo  contexto  de  socialização.  São  Carlos,  1998.  Tese  (Doutorado  em  Educação)  UFSCar.

McMahon, L. (1994). Responding to defences against anxiety in day care for young children. Early Child Development and Care, 97, 175-184.

Rapoport, A. & Piccinini, C. A. (2001). O Ingresso e Adaptação de Bebês e Crianças Pequenas à Creche: Alguns Aspectos Críticos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 14(1), pp. 81-95

Rossetti-Ferreira, M.C. & Amorim, K. (1996). Relações afetivas na família e na creche durante o processo de inserção de bebês. Trabalho apresentado no IV Simpósio Latino-Americano de Atenção à Criança de 0 a 6 anos, Brasília.

Vitória, T. & Rossetti-Ferreira, M. C. (1993). Processos de adaptação na creche. Cadernos de Pesquisa, 86, 55-64