As grávidas são um grupo de risco para qualquer toxiinfeção alimentar, pois pode originar complicações graves para o bebé, que podem ir de um parto prematuro até ao aborto.
Existem 4 microrganismos que podem causar estas complicações, a saber: a Listeria monocytogenes, a Salmonella, a Escherichia coli , a Toxoplasma gongii e a Campylobacter.
A Lesteriose é uma doença que tem sintomas semelhantes aos da gripe, é provocada pela Listeria monocytogene que é uma bactéria que se pode encontrar em altos níveis nos patês, nos queijos macios como o Brie, no camembert e nos queijos azuis, assim como noutros queijos e leites não pasteurizados. Sendo assim, não são aconselhados durante a gravidez, tal como, os alimentos pré-preparados malcozidos, saladas pré-preparadas, folhados frios de carne e quiches.
Para reduzir o risco dos alimentos comidos crus estarem contaminados, como as frutas e os produtos hortícolas, estes devem ser muito bem lavados.
Estas precauções devem ser seguidas durante a gravidez pois, uma possível Lesteriose pode causar parto de nados mortos, doenças severas nos fetos e ainda aborto.
A Toxoplasmose é uma doença causada pelo Toxoplasma gongii, um protozoário que pode ser encontrado em carnes malpassadas, lacticínios não pasteurizados e em fezes de gato. Desta forma, é desaconselhada a ingestão destes alimentos e precaução no manuseamento de fezes de gato, bem como cuidados acrescidos no caso de proximidade de gatos aos alimentos.
Esta doença, em casos raros, pode provocar ainda, doença neurológica e ocular severas, podendo levar à cegueira e a sérias anomalias cardíacas e cerebrais no feto.
A Campylobacter é o microrganismo causador da maior parte das doenças diarreicas provocadas por alimentos em humanos e é a maior causa de gastroenterites.
É uma bactéria que pode estar presente em carnes de aves de capoeira, de bovinos, de suínos malcozidas, na água e em gelo contaminados, assim como no leite não pasteurizado.
As infeções com este microrganismo podem ter graves consequências nas mulheres grávidas como a ocorrência de parto prematuro, aborto espontâneo e/ou nados mortos.
A Escherichia coli (E.coli) é uma bactéria cuja maioria das suas estirpes não é causadora de doença, no entanto, as que podem provocar algum dano, podem ser transmitidas através do consumo de alimentos contaminados como carnes mal cozinhadas ou cruas, e vegetais. As infeções por este microrganismo aumentam o risco de nados mortos, e é a maior causa de meningite neonatal e septicemia.
A Salmonella é um microrganismo que pode provocar uma doença de origem alimentar chamada Salmonelose.
Pode estar presente em ovos ou aves malcozinhados, maioneses caseiras e alimentos muito manipulados. Em casos mais graves esta doença pode levar a um parto prematuro ou ainda causar um aborto.
Tendo em conta o risco aumentado na gravidez, existe uma série de precauções que devem ser seguidas, para além dos alimentos a evitar referidos anteriormente:
Desinfete as hortícolas e frutas que serão consumidas cruas. Os alimentos antes de serem cozinhados devem ser desinfetados, recomenda-se o uso de soluções de água com lixivia, por exemplo, 10 gotas de lixívia por cada litro de água. A desinfeção pode ser feita mergulhando os alimentos, depois de bem lavados, durante 30 minutos, nessa solução. Após a desinfeção, deve-se passar por água corrente antes de consumir os alimentos.
Opte por tábuas e colheres de plástico, pois são mais fáceis de limpar;
Utilize o frigorífico para descongelar os alimentos, e se a peça for muito grande, pode ser descongelada dentro da embalagem mergulhada em água por um período máximo de 4 horas. Preferencialmente, a água deve ser trocada de 30 em 30 minutos;
Não congele novamente alimentos que foram descongelados;
Conserve os alimentos prontos e as sobras em recipientes bem limpos e fechados, dentro do frigorífico por um período máximo de 4 dias. Quando os pretender consumir, aqueça-os bem, para eliminar quaisquer microrganismos que os possam ter contaminado;
Por último, uma referência à utilização do micro-ondas, certificando-se sempre que os alimentos foram cozinhados ou aquecidos por igual, em todas as partes;
Ricardo Ferreira (CP 1815NE )
Equipa Nutrição Instituto 4 Life
Bibliografia
Williamson CS. Nutrition in pregnancy. Nutrition Bulletin. 2006; 31(1):28-59
Kathleen Mahan L., L Raymond J., Escott-Stump S., Krause’s Food & Nutrition Therapy International Edition, 12 ed., Elsevier, 2012.
Thomas B (2001) Manual of Dietetic Practice, 3rd edn. Blackwell Publishing: Oxford.
Caroline Paquet, Mark H. Yudin, et al., Toxoplasmosis in Pregnancy: Prevention, Screening, and Treatment, SOGC CLINICAL PRACTICE GUIDELINE, No. 285, January 2013
WHO, 2016, Campylobacter, disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs255/en/ [consultado a 27-12-2017]
WHO, 2016, E. Coli, disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs125/en/ [consultado a 27-12-2017]
Harvard Medical School-Portugal Program, Alimentação saudável durante a gravidez, disponível em: https://hmsportugal.wordpress.com/2012/04/23/alimentacao-saudavel-durante-a-gravidez-v3/ [consultado a 28-12-2017]
Segurança Alimentar, Guia das boas práticas de utilizador, Silvia Judite Viegas, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, IP Lisboa, 2014
Antoniolli L. , Benedetti B. , Souza M. , Borges M. Efeito do hipoclorito de sódio sobre a microbita de abacaxi “pérola” minimamente processado. Rev. Bras. Frutic. vol.27 no.1 Jaboticabal Apr. 2005
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-29452005000100041
L. Surgers, A. Bleibtreu, C. Burdet, et al., Escherichia coli bacteraemia in pregnant women is life-threatening for fetuses, 30 June 2014, Clin Microbiol Infect 2014; 20: O1035–O1041 DOI:10.1111/1469-0691.12742
Bingen, E., S. Bonacorsi, N. Brahimi, E. Denamur, and J. Elion. 1997. Virulence patterns of Escherichia coli K1 strains associated with neonatal meningitis. J. Clin. Microbiol. 35:2981-2982.
Bingen E, Picard B, et al., Phylogenetic analysis of Escherichia coli strains causing neonatal meningitis suggests horizontal gene transfer from a predominant pool of highly virulent B2 group strains.J Infect Dis. 1998 Mar; 177(3):642-50.
Stéphane Watt1, Philippe Lanotte, Laurent Mereghetti, et al, Escherichia coli Strains from Pregnant Women and Neonates: Intraspecies Genetic Distribution and Prevalence of Virulence Factors, J Clin Microbiol. 2003 May;41(5):1929-35.
Direcção geral de saúde, SECA: Medidas de Actuação e Recomendações à População, Circular Informativa No: 16/DSA DATA: 10/05/05
