O excesso de peso e a obesidade são definidos como o acúmulo excessivo de gordura corporal, podendo acarretar diversos riscos para a saúde da grávida e do feto em crescimento [1].
Durante a gravidez, tende a existir um maior ganho de tecido adiposo na parte superior do corpo pelas mulheres obesas em comparação com aquelas que mantêm um peso adequado à sua altura [2]. A gordura visceral associada a uma situação clínica de obesidade está relacionada com uma maior resistência à insulina e possível progressão para diabetes mellitus tipo 2, risco acrescido de desenvolver doença cardiovascular e níveis reduzidos de colesterol HDL [3].
Durante a gravidez, as hormonas placentárias (lactogénio e hormona do crescimento, bem como, prolactina, cortisol e progesterona) despoletam um estado de maior resistência à insulina e o aumento da glicose plasmática, de forma a possibilitar a transferência de glicose e outros nutrientes da mãe para o feto. Habitualmente, estas alterações são contrariadas pelo aumento da produção de insulina na grávida. Aquando da produção insuficiente de insulina capaz de contrabalançar estas alterações, surge a diabetes gestacional. Esta complicação é mais prevalente em mulheres com excesso de peso ou obesidade na fase pré-concepcional, em comparação com mulheres normoponderais. Mais, mulheres com excesso de peso ou obesidade antes de engravidarem têm ainda um maior risco de desenvolverem hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia [1, 3, 4].
Casos de excesso de peso e obesidade prévios à gravidez estão também relacionados com o risco acrescido de infertilidade, morte intrauterina após 22 semanas de gestação completas, prematuridade e parto por cesariana. Às complicações atrás enumeradas, associa-se a presença de anomalias congénitas no recém-nascido (espinha bífida, fenda labial e palatina, atrésia anorectal, hidrocefalia, entre outras) e macrossomia [1, 3, 5, 6]. Parece também existir uma forte correlação entre a reduzida sensibilidade materna à insulina antes da concepção e o elevado índice de massa gorda do bebé ao nascer [3, 7].
Acrescentando ao que já foi referido, a obesidade materna pode induzir alterações na expressão dos genes e, consequentemente, afectar o normal metabolismo do feto, predispondo-o a desenvolver outras complicações e doenças crónicas na sua vida adulta, entre as quais obesidade, hipertensão e nível de triglicéridos elevado, nível de colesterol HDL reduzido, hepatite não alcoólica e diabetes mellitus tipo 2 [3].
Por todas estas razões, é imperativo que, ao pensar em engravidar, tenha um peso saudável e ajustado à sua altura. Um nutricionista poderá avaliar o seu estado nutricional, elaborar um plano alimentar individualizado com base no diagnóstico e fornecer todo o acompanhamento necessário durante o processo de adequação alimentar e, se necessário, emagrecimento.
Jéssica Lourenço Barreira – CP 1758NE (Ordem dos Nutricionistas)
[1] Vernini JM, Moreli JB, Magalhães CG, et al. Maternal and fetal outcomes in pregnancies complicated by overweight and obesity. Reproductive Health [revista em linha]. 2016 [citado em 4 de Outubro de 2016];13:100. Disponível na Internet: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5002321/pdf/12978_2016_Article_206.pdf
[2] Soltani H, Fraser RB. A longitudinal study of maternal anthropometric changes in normal weight, overweight and obese women during pregnancy and postpartum. British Journal of Nutrition [revista em linha]. 2000 [citado em 4 de Outubro de 2016];84: 95-101. Disponível na Internet: https://www.cambridge.org/core/services/aop-cambridge-core/content/view/79F7F73913FA1DB2EF113502DE9F2388/S0007114500001276a.pdf/a-longitudinal-study-of-maternal-anthropometric-changes-in-normal-weight-overweight-and-obese-women-during-pregnancy-and-postpartum.pdf
[3] Valsamakis G, Kyriazi EL, Mouslech Z, et al. Effect of maternal obesity on pregnancy outcomes and long-term metabolic consequences. Hormones [revista em linha]. 2015 [citado em 4 de Outubro de 2016];14(3):345-357. Disponível na Internet: http://www.hormones.gr/pdf/DOI_003_Valsamakis.pdf
[4] Catalano P, Ehrenberg H. The short- and long-term implications of maternal obesity on the mother and her offspring. BJOG An International Journal of Obstetrics and Gynaecology [revista em linha]. 2006 [citado em 4 de Outubro de 2016];113: 1126-1133. Disponível na Internet: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1471-0528.2006.00989.x/epdf
[5] Yu Z, Han S, Zhu J, et al. Pre-pregnancy body mass index in relation to infant birth weight and offspring overweight/obesity: a systematic review and meta-analysis. PLoS One [revista em linha]. 2013 [citado em 5 de Outubro de 2016];8(4): e61627. Disponível na Internet: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3628788/pdf/pone.0061627.pdf
[6) Djelantik AA, Kunst AE, van der Wal MF, Smit HA, Vrijkotte TG. Contribution of overweight and obesity to the occurrence of adverse pregnancy outcomes in a multi-ethnic cohort: population attributive fractions for Amsterdam. BJOG [revista em linha]. 2012 [citado em 7 de Outubro de 2016];119(3):283–290. Disponível na Internet: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1471-0528.2011.03205.x/pdf
[7] Catalano PM, Kirwan JP, Haugel-de Mouzon S, et al. Gestational diabetes and insulin resistance: Role in short and long-term implications for mother and fetus. The Journal of Nutrition [revista em linha]. 2003 [citado em 5 de Outubro de 2016];133: 1674S-1683S. Disponível na Internet: http://jn.nutrition.org/content/133/5/1674S.full.pdf+html