As crianças ao nascer são retiradas de um modo abrupto do seu meio aquático, aconchegado, quente e completamente protegido. É compreensível que se sinta logo à nascença deslocado, desprotegido e desorientado. O contacto pele a pele pode ser uma maneira de dizer ao vosso filho “aqui estou… para te continuar a abraçar e proteger”.

Mas afinal o que é o contacto pele a pele? Este procedimento implica colocar a criança despida sobre o peito ou abdómen da mãe (ou pai) logo após o nascimento, em posição “barriga com barriga, pele com pele”. É algo que pode e deve ser feito logo a seguir ao nascimento, desde que se cumpram alguns requisitos: a criança ser saudável e de termo (mais de 37semanas de gravidez); demonstrar uma boa adaptação ao meio extra-uterino.

Assim, a pele do bebé é seca (para evitar o arrefecimento) e é colocado (com ou sem fralda) sobre o peito da mãe ou do pai (no caso de a mãe não se encontrar disponível, ou mesmo se os pais assim o pretenderem), com uma manta ou lençol por cima das costas do bebé.

A verdade é que este procedimento comporta vantagens não só para o bebé como também para a mãe:

Para o bebé

– Estímulo sensorial: o bebé toca a pele da mãe, sente o seu cheiro, o seu calor, procura o contacto visual

– Estimula o recém-nascido a procurar ativamente a mama, provocando o seu reflexo de busca (quando o bebé abre a boca e movimenta a cabeça em busca do mamilo), o que por sua vez promove a amamentação na primeira hora de vida, aspeto importante no que respeita ao sucesso do aleitamento materno a longo prazo

– Mantém a temperatura do recém-nascido constante, estabiliza a sua frequência cardíaca, assim como a sua glicémia (o açúcar no seu sangue) – tudo isto ajuda o seu corpo a adaptar-se às necessidades extra-uterinas

– Diminui o choro e o stresse inerentes ao nascimento do bebé, o que permite não gastar tanta energia nesta transição e estar mais disponível para conhecer os pais

– Ajuda a pele e o sistema gastrointestinal do recém-nascido são colonizados com bactérias maternas que o defendem contra doenças (são as nossas primeiras defensoras contra bactérias patogénicas)

Para a mãe

– Acalma a mãe e provoca a libertação materna da hormona oxitocina (a famosa hormona da amamentação), que diminui o stresse e a dor materna, aumenta a libertação de leite e estimula a contração uterina, conduzindo à expulsão da placenta, diminuindo as perdas sanguíneas

Para a tríade (pai/mãe/filho)

– Este contato precoce leva a que haja um (re)conhecimento mútuo precoce do recém-nascido e dos seus pais, o que fomenta a vinculação, uma relação que é mais forte do que qualquer outra e vai servir de base para a construção de todas as relações futuras da criança.

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Se é uma coisa tão simples e poderosa, como podemos ignorá-la? A Organização Mundial de Saúde apoia veemente esta prática, já que não acarreta custos aumentados a nenhuma organização e traz consigo inúmeros benefícios, como vimos acima.

Há, no entanto, algumas barreiras a esta prática, muitas vezes intrínsecas às rotinas e procedimentos de cada instituição. Na verdade, existem algumas instituições em que é protocolo o recém-nascido ser observado, vestido e antes de ser colocado perto da mãe. Este atraso na realização do contacto pele a pele não significa por si só a não realização do mesmo. Mais uma vez dou o conselho de averiguarem com antecedência as políticas e práticas dos locais onde programaram ou prevêm o nascimento do vosso bebé, para que possam planear estes pequenos (grandes) pormenores!

Se forem informados que o contacto pele a pele na instituição não é uma possibilidade logo após o nascimento, podem por exemplo levar roupas práticas de abrir (por exemplo cueiros ou vestidos) para que assim que seja colocado perto de vós consigam colocá-los dentro da vossa camisa e realizar este procedimento. Mesmo que não seja de todo possível nas primeiras horas, o contacto pele a pele pode (e deve!) ser realizado frequentemente durante os primeiros dois meses de vida da criança, já que vos pode ajudar a lidar com o choro e irritabilidade da criança, assim como acalmar as cólicas.

E se o vosso bebé for prematuro, ou tiver de ser internado de urgência numa neonatologia? Vai ser privado destes momentos? Efetivamente logo após o parto pode ser imprescindível o internamento de urgência e deste modo o contacto pele a pele terá de passar para segundo (ou terceiro) plano! No entanto, ao longo do internamento e conforme o recém-nascido vá ficando mais estável e não tenha necessidade de suporte ventilatório, fototerapia, cateteres umbilicais ou outros, é possível e desejável que se realize este contacto privilegiado.

Nestas situações específicas, este contacto ganha um novo nome “método canguru” ou “método mãe canguru”. Este método teve origem na Colômbia, como estratégia de minimizar o impacto negativo da falta de incubadoras e suporte ventilatório e outros.

Neste contexto os bebés são colocados dentro da roupa dos pais, a nível do tórax ou abdómen, ficando aninhado nessa posição (semelhante a um canguru bebé na bolsa marsupial, daí o nome “mãe canguru”!)Segundo a Organização Mundial de Saúde, este método diminuiu a morte neonatal e pós-alta, assim como a taxa de infeções, de hipotermia (baixa de temperatura), aumento da taxa de amamentação, maior aumento ponderal, melhoria da vinculação materna, e melhoria no desenvolvimento global do bebé.

A nível pessoal diminui o stresse dos pais e do bebé, que se encontram numa unidade estranha e muitas vezes assustadora, tendo assim um momento privilegiado para recordar os sons que lhe traem mais recordações positivas (voz da mãe e do pai, o bater dos seus corações); a regularização dos parâmetros vitais (temperatura, frequência cardíaca, respiração…); diminuição da dor; regularização do sono.

Assim e considerando ainda mais estas vantagens gigantes para os nossos pequenos bebés, nunca é tarde para experimentar um momento de contacto pele a pele com o vosso bebé!

Mais uma vez… esta pode ser uma questão a negociar com as equipas de saúde com quem vão vivenciar estes momentos mágicos…

Joana Costa
Enfermeira e conselheira de aleitamento materno. Faz, actualmente, o curso de preparação para o parto no Instituto 4Life
Fonte: Blog O Nosso T2

Contacto pele-a-pele: conhecer e abraçar o seu filho

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