Quando estamos grávidas e falamos com alguém, o tema do parto surge como inevitável, a certa altura do percurso. Todas as pessoas que vos rodeiam vão ter opiniões e vontade de partilhar convosco as suas histórias ou as de quem lhe contou. Entre cenários dantescos eventualmente encontram-se algumas histórias que podem realmente ajudar-vos a delinear a vossa “estratégia” de encarar o trabalho de parto.
Claro que nem tudo está nas vossas mãos… melhor dizendo, uma boa parte está nas “mãos” do vosso bebé (a posição em que se coloca dentro do útero; a “vontade” que tem de sair da “ilha”…) e há também uma parte importante nas mãos dos profissionais com quem vão partilhar este momento.
Sim, porque concordo plenamente com o que diz o pediatra Mário Cordeiro, vocês são as estrelas de rock do momento do nascimento do vosso filho! Nós (profissionais) estamos lá para partilhar esse momento e para vos ajudar a que ele seja sempre recordado da melhor maneira.
Mas voltando ao raciocínio, a verdade é que deste lado da bata branca podemos (e temos!) uma grande influência em muitas das coisas que se vão passar nesses momentos.
Em todo o caso, a expressão e os desejos de “uma hora pequenina” são altamente redutores… a verdade é que os casos de mulheres que entraram nos serviços de saúde e passado uma hora tinham os seus tesouros nos braços são raros (mas existem!).
A verdade é que o corpo da mulher necessita de algumas horas para preparar o caminho que vai ser percorrido pelo bebé e para estar pronta para o ajudar a nascer. Especialmente se for a primeira vez que o faz, poderá eventualmente demorar mais um pouco.
Por isto tudo, quero que na vossa cabeça substituam a frase “uma hora pequenina” para “umas horas confortáveis”. Como qualquer desportista que se prepara e faz o aquecimento para a grande prova, vejam o trabalho de parto como isso mesmo: um aquecimento para o parto efetivamente falando. Como qualquer aquecimento, os exercícios que fazemos podem ou não potenciar a nossa prestação no grande momento.
Existem várias estratégias, mas hoje vamos centrar-nos nos posicionamentos e mobilizações. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já defendeu várias vezes que a posição deitada poderá não ser a mais adequada para todas as mulheres, no que respeita ao conforto, diminuição da dor e evolução do trabalho de parto (dilatação). Também já está estudado que para o próprio bem estar fetal, posições que não a deitada (especialmente de barriga para cima) trazem benefícios relativamente à oxigenação e frequência cardíaca fetal.
Atenção que a ideia aqui não é falar em que posição querem estar para ajudar o bebé a nascer (podemos falar sobre isso numa outra altura), mas sim durante a dilatação, ou seja, quando há contrações e que estão internadas no hospital, até ao momento do parto.
A verdade é que não deve haver uma “receita” para todas as mulheres; a verdade é que muitas vezes se nos permitirmos a prestar atenção ao que o corpo pede, poderemos adequar melhor a posição às necessidades do corpo da mulher. Podemos falar de alguns exemplos:
– Se a mulher estiver muito cansada e quiser permanecer deitada, pode sempre experimentar deitar-se de lado, pois é uma posição em que a perfusão sanguínea para a placenta é otimizada e se encontra relaxada. Se possível o conforto deverá ser aumentado com recurso a almofadas de posicionamento (como a almofada de amamentação, por exemplo).
– Estar de pé: comecemos por uma simples… (toda a gente sabe como estar em pé) esta posição vai aproveitar a gravidade para que o bebé desça mais facilmente e torna as contrações mais eficazes, o que pode ajudar a acelerar a dilatação.
– Caminhar; mesmo que o espaço não seja muito (e que esteja agarrada aos fios do CTG), dá sempre para dar uns passinhos para trás e para a frente! Desta maneira associamos os benefícios da posição anterior aos do movimento, que podem facilitar a descida do bebé. Ao mesmo tempo pode ajudar a aliviar as dores no fundo das costas que muitas mulheres refere não só durante a gravidez, como também nestes momentos do trabalho de parto.
– Estar de pé, encostada para a frente, ou seja, apoiada na cama/maca/mesa de refeições, no acompanhante, basicamente alguma coisa que permita que possam apoiar o vosso peso, como que “pendurado” sem ser todo suportado pelas pernas e costas. Mais uma vez os benefícios são os de acelerar o parto e aliviar as dores nas costas, permitem que a grávida se balance (acrescentando algum movimento da bacia) e que alguém (profissional ou o acompanhante) realizem massagens ou aplicação de calor no fundo das costas. Existem alguns blocos de parto portugueses que disponibilizam inclusivamente um pano pendurado no teto ou em barras da cama para que a mulher possa, apoiando-se neles, relaxar e balançar o corpo nesta posição.
– Fazer uma “slow dance” com o acompanhante ou com a(o) enfermeira(o) que está a acompanhar o trabalho de parto. Atualmente a maior parte das maternidades permite (e encoraja) a utilização de música durante o trabalho de parto, nesta fase uma música calma e ritmada pode ajudar a relaxar a grávida, dançar lentamente é uma versão ligeiramente alterada do que falámos acima em caminhar. Ao mesmo tempo, se esta situação for levada a cabo pelo casal que se prepara para ajudar a nascer o seu filho, pode ajudar à libertação de ocitocina, já que o carinho entre os dois propicia o bem-estar da mãe e a ocitocina é uma hormona fundamental no trabalho de parto!!
– Para as mulheres que não estiverem confortáveis de pé ou que lhes seja impossível essa situação, exploramos possíveis posições sentadas:
– Sentada direita, por exemplo com as pernas cruzadas “à chinesa” permitindo deste modo que a gravidade faça mais uma vez o seu trabalho e que as contrações sejam mais eficazes e que a grávida esteja confortável entre contrações; quando se encontrar perto da altura de ajudar o bebé a nascer pode auxiliar a ter noção de como fazer força. Pode ajudar a relaxar a zona perineal.
– Semi-sentada, ou seja, sentada recostada para trás, podendo aproveitar as camas articuladas ou macas cuja cabeceira se eleve, ou o acompanhante poderá sentar-se nas suas costas e servir de encosto e de apoio (físico e emocional).
– Sentada numa cadeira de baloiço ou numa bola de parto/nascimento é uma das minhas preferidas!!! Utilizei-a imenso no meu trabalho de parto e quando acompanhei mulheres em trabalho de parto. A maior parte das unidades de saúde que acompanham grávidas em trabalho de parto já adotaram esta estratégia e (com maior ou menor abertura) incentivam as mulheres a tirar o melhor proveito deste simples mas muito eficaz instrumento. Podemos simplesmente sentar a mulher na bola (atenção que deverá ter apoio ao sentar e levantar da bola; não deverá fazê-lo nunca sozinha especialmente se tiver alguma alteração de sensibilidade nomeadamente nos membros inferiores). A movimentação que fazemos naturalmente para nos equilibrarmos na bola – atenção que os movimentos deverão ser de pequena amplitude (não estamos numa aula de Pilates!) – trazem os benefícios da gravidade, da mobilização da bacia, ao mesmo tempo que promovem o relaxamento do períneo e permitem que o acompanhante ou enfermeira(o) realizem massagens de conforto e aoio. É uma posição extremamente confortável e mais uma vez pode ser realizada com monitorização de CTG e até mesmo após a realização de analgesia epidural (desde que não haja intercorrências e a equipa de anestesia não se opuser). Recomendo vivamente!!
– Sentada apoiada nas costas de uma cadeira, mais uma vez o que é diferente nesta posição é a libertação da tensão lombar e permitir que alguém aplique calor ou massagem nas costas
– Posição de quatro apoios ou de “gatas”, que pode também ser adaptada para de joelhos apoiada/debruçada na cabeceira da cama ou na bola de parto. Esta posição é muito agradável para quem tem mesmo muitas dores lombares e necessita de aliviar a pressão na zona perineal, ou que o parto está a ser prolongado, já que permite por vezes que o bebé reajuste a sua posição dentro do útero para mais facilmente se encaminhar para a “saída”.
– De cócoras, na qual se podem utilizar inúmeros apoios para conseguir esta posição (mais uma vez não deverão colocar-se sozinhas sem apoio nesta posição, pelo risco de queda): a barra da cama, a bola de nascimento, o próprio acompanhante… Vai aliviar a pressão nas costas e aumentar a força da gravidade; poderá ser uma boa posição quando é necessário ajudar o bebé a descer. Nesta posição pode ser benéfico tentar alternadamente esticar e encolher uma das pernas, pelas alterações a nível da bacia que poderão ajudar o bebé a encaixar melhor.
Há um grande leque de opções! Uma chamada de atenção muito importante… Nem todas as mulheres poderão colocar-se e alternar estas posições. Existem complicações ao longo do trabalho de parto que podem impossibilitar as posições verticalizadas! O importante é falarem com a equipa que vos acompanha e tentarem chegar a uma decisão que cumpra os objetivos de todos e que não coloque em risco a saúde de nenhum.
Joana Costa
Enfermeira e conselheira de aleitamento materno. Faz, actualmente, o curso de preparação para o parto no Instituto 4Life
Fonte: Blog O Nosso T2
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