É sabido que a prática de uma alimentação completa, equilibrada e variada durante a gravidez promove a saúde da mamã e do bebé em crescimento [1]. No entanto, os alimentos poderão não só ter na sua constituição um conjunto de nutrientes benéficos para a saúde, mas também outras substâncias tóxicas, resultado de contaminação (exemplos: micotoxinas, metais pesados, pesticidas, entre outros) ou como consequência do processamento culinário (exemplos: aminas aromáticas heterocíclicas, nitrosaminas, acrilamida, entre outros) [2,3]. Visto que, durante a gestação, o feto é vulnerável à exposição a estas substâncias provenientes da dieta materna por via placentária, os efeitos podem fazer-se sentir, afetando o seu normal desenvolvimento [3].
As micotoxinas são produzidas por fungos, sendo responsáveis pela possível contaminação de alimentos como os amendoins, por exemplo [3]. Grande parte das micotoxinas podem potenciar malformações congénitas no feto e induzir proliferação celular descontrolada ou cancro, bem como, afetar a normal função cerebral e do sistema imunitário [4]. Algumas delas parecem mesmo ter uma correlação com alterações estruturais do sistema imunitário do bebé [3]. Assim sendo, é aconselhado limitar o consumo deste fruto seco durante a gestação.
Já os pesticidas e os metais pesados têm a capacidade de se bioacumular no tecido adiposo humano, atingir concentrações tóxicas e interferir com vias hormonais. Hoje em dia, é já reconhecida a associação entre a exposição a este tipo de substâncias e diversas doenças metabólicas, tais como a obesidade, diabetes mellitus ou doença cardiovascular [2]. Por isto, recomenda-se o consumo de produtos hortícolas orgânicos e biológicos, produzidos longe de ambientes poluídos e sem recorrer a quaisquer produtos químicos. Releva-se também a tão necessária desinfeção destes alimentos antes da sua ingestão. Também a carne a ser ingerida pela mamã deve ser, se possível, de animais criados em pastagens livres de agrotóxicos e adubos químicos.
As aminas aromáticas heterocíclicas estão associadas ao risco acrescido de desenvolver cancro. Formam-se nos alimentos (especialmente, em carnes) quando estes são submetidos a algum dos seguintes processos culinários: fritura, grelhado ou churrasco. Estes compostos surgem sobre a forma de manchas escuras na superfície do alimento, tipicamente designado de ‘queimado’. Este risco pode ser reduzido ao marinar a carne antes da confeção, ao rejeitar as suas partes queimadas e através do consumo de hortofrutícolas [2].
Também as nitrosaminas, encontradas em produtos de charcutaria, são outras das substâncias com efeito carcinogénico [2]. Assim sendo, a ingestão de enchidos e fumados deve ser restringido durante a gravidez [1]. Por fim, a acrilamida, igualmente carcinogénica, forma-se durante a fritura de batatas – por exemplo [2].
De acordo com o que foi anteriormente referido, enumeram-se de seguida outras boas práticas a serem aplicadas pela grávida: retirar todas as gorduras visíveis dos alimentos, optar pelo consumo de carnes magras e regrar a confeção de alimentos através de fritura e churrasco [2].
Para além de todas as substâncias já referidas, os alimentos podem também estar contaminados com bactérias ou parasitas capazes de provocar toxiinfeções alimentares. Por isso, é aconselhado que a grávida restrinja o consumo de laticínios não pasteurizados, queijos mal curados, queijo fresco e requeijão, carne e peixe mal cozinhados e legumes/fruta mal lavados. A correta higienização das mãos nos momentos certos é o primeiro passo para evitar contrair este tipo de doenças: faça-o antes e depois de manusear alimentos e depois de utilizar a casa de banho ou estar em contacto com animais. É também imperativo lavar e desinfetar todos os legumes e frutos (mesmo se pretender descascá-los), separar os alimentos crus daqueles já prontos a consumir e verificar o prazo de validade dos alimentos [1].

Jéssica Lourenço Barreira – CP 1758NE (Ordem dos Nutricionistas)

 

[1] Direção-Geral da Saúde. Alimentação e Nutrição na Gravidez. DGS; 2015 [Citado em 2 de Dezembro de 2016]. Disponível na Internet: http://www.alimentacaosaudavel.dgs.pt/activeapp/wp-content/files_mf/1444899925Alimentacaoenutricaonagravidez.pdf
[2] Direção-Geral da Saúde. Linhas de Orientação sobre Contaminantes de Alimentos. DGS; 2015 [Citado em 5 de Dezembro de 2016]. Disponível na Internet: http://nutrimento.pt/activeapp/wp-content/uploads/2015/03/Linhas-de-Orienta%C3%A7%C3%A3o-sobre-Contaminantes-de-Alimentos.pdf
[3] Roldão AT, Costa AM, Torres D. Avaliação da potencial exposição a contaminantes em grávidas. Riscos e Alimentos. 2015; 10:4-16.
[4] Lerda D. Mycotoxins Factsheet. Bélgica: JRC Technical Notes. 2011 [Citado em 2 de Dezembro de 2016]. Disponível na Internet: https://ec.europa.eu/jrc/sites/jrcsh/files/Factsheet%20Mycotoxins_2.pdf