im5São muitas as questões colocadas pelas grávidas, quando se trata da melhor alimentação, a adequar em situações de diagnóstico de uma diabetes durante os nove meses de gravidez.

Desta forma, iremos explorar melhor este tema.

A Diabetes Gestacional (DG) é definida como um subtipo de intolerância aos hidratos de carbono, sendo diagnosticada ou reconhecida pela primeira vez durante a gravidez, podendo ou não persistir depois do parto (Consenso “Diabetes Gestacional”, 2017).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2013 (WHO, 2013), passou a considerar a DG como um subtipo de hiperglicemia diagnosticada pela primeira vez no decorrer da gravidez, apresentando diferenças da Diabetes na Gravidez, pelo facto de apresentar valores de glicémia intermédios entre os níveis que considera normais na gravidez e valores que ultrapassam os limites diagnósticos para as mulheres adultas não-grávidas. Esta subdivisão destaca a relevância do subtipo menos frequente, mas considerado mais grave, a Diabetes na Gravidez que, apesar de ser igualmente diagnosticada no decurso da gravidez, pode apresentar uma diabetes não diagnosticada antes desta, exigindo um rastreio mais assertivo de malformações fetais, de maior necessidade de vigilância e terapêutica ao nível farmacológico durante a gravidez, de complicações microvasculares da diabetes, bem como de uma eventual dispensa da reclassificação pós-parto com uma Prova de Tolerância à Glicose Oral (PTOG) (Consenso “Diabetes Gestacional”, 2017; Ferreira, et al., 2018).

O diagnóstico de DG pode ser realizado através de um valor de glicemia plasmática em jejum (de 8 a 12 horas) superior ou igual a 92mg/dL ou através da PTGO, efetuada entre as 24 e 28 semanas de gestação, com valores de glicemia abaixo do valor de referência. Após o diagnóstico de DG, os objetivos de glicemia capilar são:

  • Jejum/pré-prandial: Glicemia ≤ 95mg/dL;
  • 1h após o início das refeições: Glicemia ≤ 140mg/dL.

Quanto à terapêutica não farmacológica, durante toda a gravidez, a educação alimentar deve ser sempre considerada a primeira linha de intervenção na DG. Quando os objetivos dos valores de glicemia não são alcançados após a intervenção das medidas não farmacológicas – terapêutica nutricional e atividade física – deverá optar por recorrer à terapêutica farmacológica (insulina, por exemplo) (Consenso “Diabetes Gestacional”, 2017; Lapolla A, Dalfrà MG & Fedele D, 2009; Reader D, Splett P & Gunderson EP, 2006).

Quando diagnosticada a DG, é importante avaliar a grávida em consulta de nutrição, de forma a definir um plano alimentar adequado e personalizado a esta condição, de acordo com o ganho ponderal durante a gravidez; estado nutricional; índice de massa corporal (IMC) na preconceção (ou seja, peso antes da gravidez/altura2); antecedentes clínicos existentes, bem como os hábitos alimentares da mulher grávida. Assim, o plano alimentar deve ser ajustado às necessidades energéticas da grávida, tendo em atenção que variam mediante o trimestre da gravidez, apesar de que nos primeiros três meses, mantêm-se as mesmas da mulher adulta não grávida (Consenso “Diabetes Gestacional”, 2017; American Diabetes Association, 2019).

IMC prévio

à gravidez

Ganho Ponderal

Total (Kg)

Ganho ponderal

semanal no 2º e 3º

trimestre (Kg)

Baixo peso

(<18,5 Kg/m2)

12,5 – 18Kg 0,51
Normal

(18,5 – 24,9 Kg/m2)

11,5 – 16 Kg 0,42
Excesso de peso

(25,0 – 29,9 Kg/m2)

7 – 11,5 Kg 0,28
Obesidade

(≥30,0 Kg/m2)

5 – 9 Kg 0,22

                Fonte: Consenso “Diabetes Gestacional”: Atualização 2017

Especial enfâse nos hidratos de carbono, pois são os nutrientes que influenciam de forma direta os valores da glicemia (American Diabetes Association, 2019). Devem ser calculados corretamente e distribuídos em cerca de 6/7 refeições ao longo do dia, nomeadamente: pequeno-almoço, meio da manhã, almoço, um a dois lanches, jantar e terminar com a ceia. Esta última refeição não deve ser omitida, de forma a evitar jejuns noturnos superiores a 8 horas, bem como hiperglicemia em jejum e cetose matinal. Na alimentação da grávida, é igualmente importante ter em consideração os micronutrientes essenciais como os minerais (ferro, iodo e cálcio), vitaminas (ácido fólico, vitamina C e vitaminas lipossolúveis) e as fibras solúveis e insolúveis, de modo a evitar carências nutricionais (Consenso “Diabetes Gestacional”, 2017).

Portanto, não só o acompanhamento médico, como o nutricional deve ser indicado, para que a grávida consiga controlar a DG, seja em que trimestre da gravidez se encontrar. Deixamos algumas recomendações a ter em consideração:

  • Registo dos valores de glicemia, de acordo com as indicações do seu obstetra e/ou endocrinologista;
  • Controlo semanal do peso, e avaliar o aumento mediante as recomendações;
  • Cumprir o plano alimentar e nutricional personalizado e adequado às suas necessidades, fornecido pelo seu nutricionista:
  • Fracionar as refeições adequadamente ao longo do dia, com intervalos regulares entre 2h30 a 3h, bem como evitar o jejum noturno de mais de 8 horas;
  • Realizar uma distribuição equilibrada e adequada de hidratos de carbono pelas refeições diárias;
  • Evitar lacticínios com açúcares adicionados, preferindo os que contenham açúcares naturalmente presentes (como a lactose);
  • Evitar os cereais refinados, preferindo pão integral ou de mistura, por ser mais rico em fibra, em relação ao pão branco;
  • Evitar o consumo de produtos açucarados e com adição de açúcar;
  • Variar a fruta que ingere;
  • Evitar a ingestão de sumos, mesmo que naturais, uma vez que um sumo não terá apenas uma porção de fruta.
  • Manter-se ativa: a atividade física deve ser estimulada diariamente, pelo menos cerca de 30 minutos de caminhada (com autorização do médico obstetra), preferencialmente após as refeições (Coustan DR, 2016).

Grávidas com DG, que não sejam devidamente acompanhadas a nível médico e nutricional, para que haja um controlo seguro dos valores de glicemia, podem estar mais expostas a complicações graves para si e para o seu bebé (Coustan DR, 2016; American Diabetes Association, 2019).

A Equipa de Nutrição do Instituto 4Life estará ao seu dispor para qualquer esclarecimento e preparados para um acompanhamento nutricional mediante as suas necessidades.

Flávia Neca

Nutricionista Estagiária

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

American Diabetes Association (2019). Diabetes Care 2019 Jan; 42(Supplement 1): S165-S172. https://doi.org/10.2337/dc19-S014. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=30559240.

Consenso “Diabetes Gestacional”: Atualização 2016 (2017).  Revista Portuguesa de Diabetes, 12 (1): 24-38.

Coustan DR, MD (2016). Gestational diabetes mellitus: Glycemic control and maternal prognosis. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/gestational-diabetes-mellitus-glycemic-control-and-maternal-prognosis.

Ferreira AF, et al. (2018). Diabetes Gestacional: Serão os Atuais Critérios de Diagnóstico Mais Vantajosos? Acta Médica Portuguesa, 31(7-8), 416-424.doi:10.20344/amp.10135. Disponível em: https://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/viewFile/10135/5475.

Lapolla A, Dalfrà MG & Fedele D (2009). Management of gestational diabetes mellitus. Diabetes, Metabolic Syndrome and Obesity: Targets and Therapy, 2 73–82. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3048015/pdf/dmso-2-073.pdf.

Reader D, Splett P & Gunderson EP (2006). Impact of Gestational Diabetes Mellitus Nutrition Practice Guidelines Implemented by Registered Dietitians on Pregnancy Outcomes. Journal of the American Dietetic Association, 106(9), 1426–1433. doi:10.1016/j.jada.2006.06.009. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16963348.

WHO (2013). Diagnostic Criteria and Classification of Hyperglycaemia First Detected in Pregnancy. Disponível em: http://www.who.int/diabetes/publications/Hyperglycaemia_In_Pregnancy/en/.